segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Email readaptado para post (ou desculpa pra manter o blog semi-ativo)

Aproveitando o retorno das cinzas do blog (que parece que não vai durar muito), decidi adaptar um texto que eu tinha escrito de videogames pra cá:

Bom, meu videogame foi pro caralho recentemente e estou sem ele há mais de um mês, por isso o último jogo que eu zerei foi o Dead space. Que é fodão, provavelmente o melhor de 2008 que eu joguei.

Em teoria, ele não é nem uma grande novidade no seu gênero (survival horror). A grande crítica que nego faz a ele na verdade é exatamente isso, de ser muito parecido em termos de sistema de jogo com o Resident evil 4. E é mesmo, o enquadramento, a mecânica de combate, upgrade de armas, inventório etc. são muito semelhantes ao jogo da Capcom.

(eu não vou fazer um tratado sobre o Resident evil 4, mas é um jogo muito foda, apesar de corromper os elementos mais irados da série como foi concebida originalmente... na verdade, tem um resenha minha em inglês no Gamefaqs, se alguém tiver tempo pra jogar fora e interesse em ler: http://www.gamefaqs.com/console/gamecube/review/R96278.html)

Bom, o Dead space tem algumas coisas que levam ele a um nível fodaço.

Primeiro, a ambientação do jogo é muito animal. Ele se passa no espaço (é meio um Resident evil futurista nesse sentido) e isso é incorporado no jogo de um forma muito irada, afetando a jogabilidade mesmo (por exemplo, tem áreas de gravidade zero e outras de vácuo, onde você respira através de uma reserva de oxigênio). Ou seja, é uma mudança muito mais do que cosmética, dando algumas novas dimensões ao jogo. Depois, esse lance da ambientação é muito bem tratado tecnicamente. Na verdade, ele nem é tão deslumbrante quanto outros jogos do Xbox 360 que eu tenho (tipo Assassin's creed ou Gears of war), mas o design de video e, principalmente, de áudio criam um clima absurdamente foda pro jogo. Nesse sentido, ele resgata muito do que o Resident evil 4 perdeu em termos de atmosfera em relação aos primeiros jogos da série (por se concentrar bem mais na ação), só que em um universo que nunca foi tão bem explorado pelo gênero dele.

Depois, o design de monstros e combates é muito bem mandado. O jogo parte de uma premissa bem simples, de que os inimigos que você enfrenta perdem bem mais energia quando você decepa membros deles. Além de isso dar um tchan no quesito violência, torna as lutas mais interessantes porque você ter cuidado com a mira, a precisão dos tiros e o tipo de arma utilizada contra cada monstro são coisas importantes. Isso também aumenta a tensão porque você não pode carregar todas as armas de uma vez, ou seja, às vezes você tem que improvisar etc. e tal. Os combates de chefes são meio caídos, mas contra os inimigos normais tem umas situações bem tensas e iradas que reforçam o clima de terror.

Tem um outro elemento que não é muito fácil de analisar sem soltar uns spoilers, mas é interessante como o jogo mistura uma porrada de sub-gêneros de terror em uma coisa só, deixando o jogador em dúvida sobre qual é a origem dos monstros que ele vai enfrentando ao longo da trama, o que fica em questão até o final dele mesmo (e a história em si é bem bacana). Aliás, sem estragar a graça do desfecho, é legal como ele consegue dar uma sensação de conclusão pra história (ao contrário da tendência de hoje em dia de fazer jogo praticamente com chamada pro próximo da série) e ainda assim deixar algo em aberto para a possibilidade de uma continuação.

(aparentemente o jogo fez bastante sucesso, então é provável que role algum tipo de continuação; teve até uma mini-série em quadrinhos desenhada pelo Ben Templesmith!)

O último elemento fodaço, e um dos mais geniais, é como o sistema de jogo consegue dar uma nova dimensão para a sensação de tensão do gênero e de imersão dos videogames de uma forma geral. Os caras simplesmente descartaram tudo que é tipo de menus, medidores de energia, munição etc., transformando tudo isso em hologramas que saltam da armadura do personagem principal ou incorporando esses dados ao mundo virtual do jogo. O próprio inventório é acessado através de um desses hologramas, sem pausa, o que faz com que você não consiga parar pra se curar no meio de uma luta, já que os monstros vão continuar te atacando enquanto você tenta pegar aquele último medikit pra salvar a sua pele.

Em suma, é um jogo que pega uma base muito boa de um gênero que já tinha sido reformulado (porque o Resident evil 4 já é um modelo repensado do survival horror) e expande ela de uma forma inteligente, que potencializa tudo o que o gênero tem de mais foda.

Jogaço. Me empolguei.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

ÁLBUM DE COVERS #2

Em menos de uma semana (nem meia, na verdade), outro capa de disco foda e, novamente, do King Crimson.

Eles sempre foram uma banda venerada pela qualidade de seus músicos, provavelmente a grande super banda de rock da história. Suas diversas formações (e põe diversas) sempre contaram com excelentes músicos, a nata da nata, de fazer inveja a qualquer grupo de jazz.

Mas e daí, eu mesmo digo. Está bem, são grandes músicos, mas o que tem isso a ver? Não era pra ser um post sobre capas?

Eu respondo, claro! É um post sobre uma capa. Somente que nesta está a indiscutivelmente melhor formação que já tiveram. E aqui está a capa:


Que banda, se não o King Crimson, conseguiria reunir num único disco o Caetano Veloso, o Renato Russo e o Sting? Isso é quase o Três Tenores do rock progressivo.

Piada velha e insônia são uma mistura ridícula.

domingo, 25 de janeiro de 2009

MINI TRATADO ESPECULATIVO SOBRE UM DISCO DE THRASH METAL

Sempre tive uma questão sobre o mundo metal: O que seria do Metallica se o Dave Mustaine não tivesse sido chutado pra fora? Antes do lançamento do Kill´em all, o guitarrista foi colocado meio desacordado em um ônibus e despachado de volta pra casa, substituído pelo Kirk Hammett, tendo que tentar sua vida à parte de sua ex-futura maior banda de metal do mundo.

Isso deve ser um golpe difícil de se recuperar, ser expulso de algo que ajudou a construir e, olhando em retrospecto, ele, de fato, até hoje ainda vive sobre a sombra do que poderia ter sido, cheio de ressentimento, que transparece em suas declarações e entrevistas.

Gostemos ou não, ele parece ter sempre ficado à espreita de seus ex-parceiros, para o bem e para o mal. Seu primeiro disco, Killing is my Business…, é um tanto genérico, não acrescenta nada que as outras bandas da época já haviam feito. Seu clássico da era thrash, Peace sells…, é quintessencial ao estilo, uma mudança radical em relação ao anterior, mas, coincidentemente, o Metallica, algum tempo antes, já tentava alargar o seu som. E se em 1988 esses se aventuravam ainda mais em suas pretensões progressivas do …and Justice for all, o Megadeth fazia o mesmo em 1990 no sensacional, absoluto e consensual Rust in Peace. E se o Metallica novamente modificava a sonoridade que tinha com o Preto, se afastando de complexidades e linearizando seu som, o Dave Mustaine caminhava na mesma direção com o Countdown to Extinction e o Youthanasia, e depois seguia o Load e Reload com o Cryptic Writings e Risk, e lá vai o trenzinho.

Sendo mais babaca, até o nome da banda fica meio que no rastro do passado, começando com M, de Mustaine.


Com Mustaine.


Temos, no entanto, que dar um crédito enorme ao cara. Três clássicos do primeiro disco do Metallica foram co-compostos por ele (Four Horseman, Jump in the Fire e Metal Militia), sem mencionar a Phantom Lord, dos guitarristas do thrash americano possivelmente ele é o mais dotado tecnicamente e foi capaz de montar a segunda maior banda do estilo. E isso não é pouca coisa. Você sai da maior de todas e constrói a segunda maior? Impressionante!

Quem conhece a banda já deve ter percebido que pulei (propositalmente) o So Far, So Good… So What. E fiz isso não simplesmente por ser o melhor álbum da carreira da banda, nem por ser considerado por muitos um tiro fora do alvo, um trabalho sem foco e direção, um percalço na ascensão do Megadeth à nata do metal mundial, mas por ser tão óbvio para mim ser esse o cume da carreira deles e um dos clássicos indiscutíveis do rock mundial e, ao mesmo tempo, tão execrado pela massa cabeça de metal. É como se diz, gosto não se discute, se lamenta (ou se aprimora).

Existe, ainda, outro motivo (e mais importante) para colocá-lo de fora da listagem. Veja bem, se fiz uma lista onde a temática básica era a obsessão de alguém por uma banda, estar excluído da lista significa não compartilhar da mesma dor de cotovelo. Mas veja bem (veja bem, novamente), simplesmente integrar ou não a lista não faz do disco melhor ou pior. Várias ou quase todas as bandas de qualquer estilo se espelham em algo para criar suas músicas, quer musicalmente, quer conceitualmente. O próprio Megadeth compôs albuns fantásticos nessa veia de ressentimento, o combustível do motor do Dave Mustaine. Além do mais, nunca disse que tentava plagiar o Metallica, nem mesmo fosse desprovido de talento. Muito pelo contrário. Como plagiar o que ele mesmo criou? Vamos acusar agora também o Kai Hansen, mestre em se auto-repetir?


Diferente do orgulho da Alemanha, o recalque de Los Angeles sempre soube se reinventar. Expeculando um pouco, ele devia ser ainda impulsionado pelo gênio (de alguém genioso, não genial) do Lars Ulrich, provavelmente quem empurrava o Metallica na direção transgressora que traçava (como alguém tão limitado tecnicamente poderia continuar numa banda tão talentosa e promissora, não fosse por uma personalidade influente?). Ainda assim, mesmo em outra banda, encontrava a inspiração necessária à renovação de seu som.

Acontece que o So Far… é um caso em especial. Nenhum album do Megadeth emana um descompromisso tão pungente como ele. Não há como se traçar um paralelo com o Metallica aqui, pois o Metallica nunca tinha ido por essas águas. O So Far… não segue nenhum tipo de caminho claro, nenhuma fórmula (como o Metallica fazia, de músicas longas, influências claras de rock progressivo, de suítes). Talvez siga conscientemente a fórmula de não ter fórmulas, mas, seja por uma via intencional ou não, é extremamente fiel ao título: Até agora, legal… E daí?


Sem Mustaine.


E daí que é o "So What?" que navega o disco. É uma chutação de balde sem precedentes no metal. Tirando o cover, não há refrões em seis das sete músicas. Abre com uma música instrumental (não é uma introdução, é uma música mesmo), não há uma estrutura básica que as músicas sigam, certas passagens tem três guitarras, algo nada comum no heavy metal, solos e licks de guitarras em momentos bastante improváveis e avança por diversas vertentes do gênero musical em questão, desenvolvendo estilos diferentes de thrash, mais em conformidade com o power metal ou com mais swing, mais na veia do heavy tradicional, e até do rock and roll, aprimorando a instrumentação mais técnica, sua marca registrada. Vamos música a música, parágrafo a parágrafo.

Into the Lungs of Hell (instrumental): Abrir um disco com uma música instrumental é algo no mínimo descompromissado. A Abertura é sempre marcante, ou tenta ser, com um refrão contagiante, um riff memorável, e por aí vai. Ou então se faz uma introduçãozinha só pra não arregaçar de cara, dar uma lubrificada antes ou só pra criar um climinha. Mas o Megadeth (Medageth para alguns) não, eles optaram por gravar uma música intrumental mesmo, com início, meio e fim. E que música! Violão e guitarra distorcida aos quais se junta uma marcha pra, em seguida, começar o bumbo duplo e o solo. Depois é só pegar o primeiro acorde do riff e estendê-lo até começar o solo neo-classico tradicional de metal e seguir o caminho até o fim, dando ao final uma subidinha de tom e encurtando o tempo da frase até acabar.


Set the World Afire: Engraçado é que ela tem muito mais cara de abertura de disco que a instrumental. Pode-se entender então que antes era só um prólogo e que é aqui que começa a estória de fato. Tem até uma introduçãozinha de um grupo vocal dos anos 30-60, The Ink Spots (famosos quem?), "I don´t wan´t to set the World on Fire", que descamba numa explosão e num frenesi de guitarras. O mais curioso é ela desembocar num rufar de tambores, que dá num dos riffs de thrash técnicos do Dave Mustaine e, de repente, se desanda num que o Judas Priest poderia gravar. Eis que, sem mais nem menos, volta o thrash caraterístico da banda e os riffs de harmonia sem melodia que ele e o James Hetfield popularizaram. E então se começa o que poderia ser um refrão, fosse repetido alguma vez, acompanhado pelas palhetadas rápidas estilo whiplash, palhetadas e sobe o tom, palhetadas e desce o tom e a volta do Judas Priest junto a um solinho mega estridente. Depois, mais riffs harmônicos, mais guitarras estridentes e mais solos.


Formação clássica


Anarchy in the UK: Covenhamos, é dispensável mesmo. Tenho que concordar com todos os críticos que um cover do Sex Pistols não deveria estar aqui. Mas, convenhamos também, ficou boa. Se não fosse um disco de thrash metal estaria perfeita. Tudo um problema de contexto, diria. No entanto, não tenho como deixar de pensar que faz algum sentido ela estar aqui. Esse é, sem sombra de dúvidas, um disco anárquico, mais que qualquer outro já gravado por uma banda de metal. Ele não tem estrutura, já disse, não tem refrões, é cheio de intervenções de guitarra, mudanças de tempo e efeitos, distorções e timbres. Anarquia no thrash metal.

Mary Jane: Minha preferida. É outra mal localizada. Uma música climática, que depende muito da melodia dos solos (sejam com ou sem distorção), entre faixas rápidas, não tem muita ajuda para dar certo. Mesmo assim funciona perfeitamente. Acho monumental a maneira como a música se constrói, de um tom de epílogo que vai descendo, um solinho que encontra a voz do Dave Mustaine fazendo canto psicodélico, um riffzinho trotante ao lado da guitarra limpa fazendo clima, até que a música volta a ganhar tensão com a reTOMada da melodia, que reconquista o que o início perdeu, voltando a ceder e cair para se retomar novamente e cair de novo. Esses solos que ganham energia e a perdem se mantém com o riff trotante até a música se partir numa passagem mais rápida, com preparação de porrada, cavalgadas, quebras de tempo surreais e finalizar mais acelerada ainda. Detalhe ser uma das poucas músicas de heavy metal (pelo que me lembro) a falar sobre maconha.


Lier, Lier, Lier!!!


502: Sobre a tendência suicida do compositor, guitarrista e galinácio de dirigir bêbado. A mais direta daqui, palhetadas retas, riffs à la power metal (parecidos com os que o forbidden viria a fazer), solos ultra-climáticos (em quem o Kirk Hammett provavelmente se inspirou) e uma passagem mega-vanguardista (ao menos pro thrash), quando a música virtualmente para pro som de alguém entrando num carro e dirigindo até tê-lo devidamente porrado, muitos não acham muita graça. Vai entender. Termina com um solo de bateria e barulhos de guitarra.

In my Darkest Hour: O grande clássico do So Far… e do Megadeth. Uma balada pesada e contagiante, presença garantida nos shows. Minha outra preferida, tão boa ou melhor que a Mary Jane. Nem vou falar muito dela porque não há muito do que falar. Bonita, empolgante, épica, foi descaradamente plagiada por uma música do Cardinal Sin, Probe with a Quest. Detalhe a música ter sido escrita após o Dave Mustaine saber sobre a morte de seu ex-companheiro de Metallica, Cliff Burton.

Liar: Mais uma escrita sobre um ex-companheiro, nesse caso a letra. Seu compatriota de banda, Chris Poland, que estaria vendendo equipamentos de som para comprar drogas, foi expulso, mas ainda permaneceu no albúm em forma de música. Quase tão direta quanto a 502, também tem um quase refrão assim como a Set te World Afire (se o Lier!, Lier!, Lier! se repetisse em outra passagem).

Hook in Mouth: A que o baixo do David Ellefson mais aparece. Aos riffs, aqui também à la Judas Priest, se alternam as palhetadas rápidas, os solos neoclássicos e, o mais incrível, um solo que é quase base, ao mesmo tempo. Essa é a única com refrão, que, por sinal, é memorável, assim como todo o vocal, e, por conta disso, é a que mais se destaca pela voz. Realmente é absurdamente empolgante cantar junto essa música em especial (junto com a In my Darkest Hour, que é O clássico).

É por isso e tudo mais que considero essa a obra prima do Megadeth. Ela é transgressora demais do thrash, é descontrolada demais. De repente a crítica geralizada é por conta disso, por uma banda seminal do estilo tê-lo subvertido por demais. O Metallica expandia seu som, assim como o Megadeth, mas sem perder sua característica e, quando o fizeram, foi em busca de algo mais pop, mais acessível, o que não é o caso com o So Far… É possível que outra banda fosse mais bem recebida ao tentar tal empreitada, não uma que havia acabado de alargar o estilo.


Ahh! Então foi por isso que o Mustaine saiu do Metallica!


Falando especificamente do relançamento remasterizado de 2004, a produção especialmente tosca do So Far, So Good… teve uma melhora absurda, rídicula de mais cristalina. E isso logo de cara. A Faixa instrumental tem o violão do riff inicial colocado em bastante destaque sem que isso prejudique nenhum dos outros instrumentos e, pasmem, tem uma cornetinha que nunca tinha percebido. Fantástico! O Mustaine é ainda mais aloprado do que imaginava. A bateria (os bumbos duplos especialmente) desobstrui o caminho para o baixo e as guitarras se sobressairem um pouco mais (os agudos ficam muito mais claros e evidentes e o baixo muda muito mais claramente a melodia das bases de guitarra) e, de um modo geral, fica tudo com um tom mais coeso e mais bem equalizado. Só para se ter uma idéia, é como quem tem miopia usar óculos pela primeira vez. Dá pra ver o contorno dos sons. As passagens mais confusas, como a enxurrada de guitarras da Set the World Afire ou a explosão do início ficam muita mais contidas, sem perder peso, e as intervenções dos solos continuam identificáveis mesmo nas voltas dos riffs.

Não que a voz aqui seja algo pra ser muito apreciado, mas os efeitos ficam eles também mais marcados. A consensualmente mal vista Mary Jane tem as intervenções vocálicas do ganso rouco mais bem desenhadas (algumas dispensáveis, é verdade, ponto ruim para a nova produção), mas, em compensação, guitarras bases e solos se digladiam bem menos, entrando em acordo mútuo. A também mal vista 502 talvez passe a ser um mau olhado mesmo, já que a base está bem mais destacada e, e a guitarra power metal da passagem “driving fast makes me feel good …” bem mais… não sei o que bem mais, além de realçar o sumiço da música quando o Dave Mustaine entra no carro e o caos de sua volta quando da batida. Em contrapartida, os bumbos estão no lugar exato que deveriam estar, tanto aqui quanto na hook in mouth. Já os bumbos duplos ficam na média do metal dos anos oitenta, um problema inevitavelmente comum na época, o que já é um avanço.


guitar heroGuitar Hero…


Uma novidade aqui é o início da In my Darkest Hour, que tem umas notas de violão que inexistiam no lançamento original. Alguns vocais dobrados em terças (ou quintas, como vou saber?) ficam também mais claros, somados ao realce dos efeitos tanto neles quanto nas guitarras. Hook in mouth, além dos bumbos menos toscos está com o ataque do baixo mais evidente, com o timbre metálico bem mais metálico e um eco do vocal mais óbvio. Já a Lier tem seu corinho Lier, lier, lier! beneficiado pela remasterização e nada muito mais digno de nota. E a Anarchy in the UK não teria muito o que ganhar.


megadeth-dave… ou campeão de judô?


Fico pensando aqui se o problema do disco não estaria na ordem das músicas. O cover do Sex Pistols ficar na faixa três numa banda de thrash? Não estaria mais bem localizada como uma faixa bônus? É um peixe fora dágua. Mary Jane, por ser mais lenta e mais climática não seria melhor usada fechando o álbum? Minha escolha para a ordem das músicas seria essa: Into the Lungs of Hell, Set the World Afire, In my Darkest Hour, 502, Liar, Hook in Mouth, Mary Jane e Anarchy in the UK (faixa bônus). Mas aí esse post começa a virar mais punheta do que já está.

sábado, 24 de janeiro de 2009

ÁLBUM DE COVERS

Inspirado pelo meu amigo Jotun e suas capas da semana, resolvi aproveitar meu tédio de sábado à noite para fazer o mesmo. Mas, pra não dizerem que sou um pelão ou sem muita criatividade, ao invés de falar sobre algum disco fresquinho, saído do forno, melhor aproveitar minha habilidade anacrônica e falar sobre uma capa foda e pronto, sem importar que seja antiga, irrelevante ou datada. E a eleita é essa:

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Mas porra, vocês diriam, falar sobre a capa deste disco? Logo a capa? Deste disco? Se ter na mão um dos albuns mais seminais da história do rock, considerado por muitos o melhor fruto de todo o movimento do rock progressivo e falar sobre a capa? Por que não sobre os riffs? O guitarrista é o Robert Fripp. Por que não sobre os vocais? O vocalista é o Greg Lake, posteriormente famoso por um tal de Emerson, Lake and Palmer. Por que não falar do Ian Mcdonald, o verdadeiro astro daqui, que toca flauta, clarinete, teclado, mellotron, saxofone e etc? E as influências jazzísticas que o King Crimson trazia pro rock? E como Fripp e cia alargavam as fronteiras da música popular? Por que a capa?

Por que a capa, com uma banda tão foda?

Porque da capa é o que menos se fala. Todo o resto já é mais que sacramentado, mais que reconhecido. Não quero chover no molhado para falar o quão foda é o In the Court of the Crimson King, nem na revolução musical que trazia o lançamento. Pelo menos não agora.

O que de cara impressiona qualquer um é a crueza do negócio. Uma banda tão elaborada e complexa como o King Crimson, com temas esotéricos, místicos e espaciais tão frequentes, e que se leva tão a sério quanto uma banda pode levar, optar por um desenho tão tosco e tão direto pra ilustrar logo o debú? Não seria melhor colocar um trono, com uma coroa e um cetro de lado? Ou um rei imponente, com uma capa maneira?

Mas afora a crueza, o interessante é ela retratar exclusivamente a expressão de terror e desespero do sujeito. E o que tem de tão foda em se captar a expressão do sujeito? Bem, respondendo com outra pergunta, o que estaria causando essa expressão de terror e desespero? O que estaria ele vendo pra causar tamanho horror? A Bruxa de Blair? A mula sem cabeça? Estaria ele ouvindo Rhapsody (of Fire)?


king_crim_courtf


Ele olha pra si mesmo, isso que é tão foda. Ele é a faixa de abertura do disco, ele é o 21st Century Schizoid Man, vendo seu próprio surto. A cabeça se abrindo para o universo, ou seu universo o deixando para o mundo, como queiram, ele, de toda maneira, se perde de si mesmo, e isso é o que é tão foda.

É uma arte meio grotesca, até grosseira, diria, mas se trata de uma banda de rock, com guitarras distorcidas, que, por sinal, é das mais pesadas de todo o rock progressivo. Nada mais de acordo que uma capa que retrate um pouco isso.


Pra falar a verdade, isso acaba me remetendo um pouco ao ao vivo (isso ficou meio estranho) do Bruce Dickinson, o Scream for me Brazil, que, diz o vocalista, trocou uma capa que seria inspirada no grito do Edvard Munch (ao lado) pela piranha (logo abaixo).

1


O maneiro é notar que a capa do King Crimson realmente lembra o grito, uma mera coincidência talvez. Mas se, por ventura, rolou uma inspiração no pintor norueguês, provavelmente algo semelhante aconteceu com uma cena desse filme que já fiz referência aqui:



Pois então, interlúdios à parte, a arte da estréia do Rei Escarlate não se resume a capa propriamente dita, mas a arte gráfica como um todo, que envelopa a musica. Pois, se o disco abre com o homem esquizoide do século 21, fecha com o Rei. Faltaria, portanto, uma imagem do mesmo. Faltaria, pois há sim um retrato seu:


8


Essa ilustração, que é obviamente da parte interna do encarte, seria a dele próprio, do King Crimson em pessoa, em contradição consigo mesmo, com um sorriso na boca e tristeza nos olhos. Para notar com mais clareza, basta tampar um dos dois e ver o outro.

A capa foi criada por um tal de Barry Godber, um programador em computação, e esse aparentemente é seu único desenho. O artista amador morreu em fevereiro de 1970, de um ataque no coração. Mas deixemos o Robert Fripp falar um pouco:


"Barry Godber was not a painter but a computer programmer. That painting was the only one he ever did. He was a friend of Peter Sinfield, and died in 1970 of a heart attack at age 24. Peter brought this painting in and the band loved it. I recently recovered the original from EG's offices because they kept it exposed to bright light, at the risk of ruining it, so I ended up removing it. The face on the outside is the Schizoid Man, and on the inside it's the Crimson King. If you cover the smiling face, the eyes reveal an incredible sadness. What can one add? It reflects the music..."


É, basicamente ele diz tudo o que eu falei nesse post, excetuando a enrolação e as comparações. Essa declaração faz parte de uma entrevista para a revista francesa Rock & Folk e, pra quem quiser conferí-la, há uma tradução da mesma aqui.

Disco foda, banda foda, músicos fodas, encarte foda, vou dormir ouvindo!

PARÁGRAFO GROOOOOOOOVY METAL

Fazia muito mais tempo do que não postava aqui no blog que não ouvia o Pantera. Desde lá por 1994, acho, que não pego minha fitinha cassete tosca do Vulgar Display of Power pra dar uma conferida, sujar o cabeçote e bater a cabeça ouvindo os urros melódicos do Phil Anselmo, os riffs cheios de groove do Dimebag Darrell e os tamborins do Vinnie Paul. E agora, graças a internet, não estou mais preso ao padrão Dotto de qualidade de gravação e posso ouvir a plenos ouvidos a demonstração de poder nada vulgar desse disco. Muito pelo contrário, o título é propaganda enganosa descarada, pra meter um processo jurídico numa banda que nem existe mais. Não há nada de vulgar aqui. Embora cheia de poder, a demonstração thrash metálica do Pantera é bastante rigorosa, com influências demais para ser considerada ordinária. É metal cheio de classe, thrash cheio de ginga, distorção cheia de death, bateria cheia de feeling, cheio do heroísmo Darrelliano, do virtuosismo, da pegada bluesística, da malemolência do finado guitarrista mambembe. Guitarra quebradeira que, ao mesmo tempo em que dá um tom melódico meio-blues, faz percursão junto a bateria de pratinhos, contra-tempos, caixas dobradas e bumbos duplos, e que influenciou felizmente e infelizmente todo o metal e nu-metal posterior, desde o TOOL ao korn. E o Phil Anselmo, o vocal do Phil Anselmo, agressivo pra caralho e todo modulado, um gutural que consegue fazer melodia, ou um canto cheio de distorção, que faz escola com o Mikael Stanne e o Nils Frykdahl. Quer ouvir as influências difusas do Pantera, tire de contexto o riff da Walk e ouça o BB King que existe dentro do Dimebag Darrell. Metal capoeira com mais gingado que o Motörhead tocando Sacrifice ao vivo no circo voador ou que o Sepultura, da terra do samba, conseguiu atingir? A New Level - que, por sinal, é também uma demonstração de toda a versatilidade tanto técnica como em composição da cantoria frenética do Philip Anselmo. Uma passagem transportada diretamente de um Altars of Madness ou Covenant da vida? O riff lento final da This Love. Ouça Fucking Hostile: Thrash "old school", solo tipo whiplash, riff bay-area/ bridge hardcore melódico quase-pop/ um dos refrões mais diretos e engraçados da história. Curioso como o Pantera atualizou e ultrapassou o thrash americano com um som que remete ao mesmo tempo a direções tão diversas, como ao Black Sabbath, ao Death Metal, aos Guitar Heroes, ao visual grunge, ao Hardcore, ao Crossover e ao que mais posso ter esquecido.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Não me perguntem porque o Grant Morrison é um gênio...

...porque é mais fácil ler as doze edições da revista All-Star Superman e depois a entrevista em dez partes sobre a série no Newsarama.

Genialidade pura.

E como a história do Morrison é a despedida do Super Homem, eu decidi me inspirar em tudo isso e me despedir daqui, já que ninguém posta porra nenhuma mesmo. Continuarei com minhas considerações musicais no meu outro blog, The son of rage and love, que ficou parado nesse meio tempo.

Se algum dia isso aqui voltar à vida, eu volto também.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Uma vez tosco... sempre tosco

Todo mundo sabe que o Manowar é a banda mais true metal do planeta. Tão true que os caras não têm vergonha de lançar CDs com capas em que aparecem vestidos de pantufas, com espadas nas mãos, corpos lustrados com óleos e coisas ridículas do gênero.

Os caras se dizem tão metal, mas tão metal que cantam músicas com frases como: "if you're not into metal, you are not my friend"; ou "it's more than our religion, it's the only way to live"; "we don't attract whimps, 'cause we're too loud"; ou ainda "cause I need metal in my life, just like an eagle needs to fly". Pura poesia, afinal, é a banda que lançou o disco se autodenominando Kings of metal.

Por essas e outras, é difícil imaginar os caras da banda dissociados da imagem ultratruemetal que eles criaram.

Bom, agora isso já não é mais tão difícil assim:

Acima: o vocalista Eric Adams e o baixista e líder Joey DeMaio na sua fase descolada 'eu uso calça boca-de-sino mesmo, e daí?'. A foto aparentemente foi tirada em 1976, quando os dois integravam a banda The Looks, sobre a qual me foi impossível achar informações na internet.

Bem que eles podiam reativar a banda, calçar seus sapatos plataforma e lançar o álbum Kings of disco. Pelo menos eles iam demonstrar um pouco de senso de humor.

Caralho, alguém devia imprimir essa foto e levar numa tarde de autógrafos da banda!